sábado, 10 de outubro de 2009

3 dias de chuva incansável

Enquanto eu corria entre os carros, a chuva batia urgente às gotas e oxidava a mecânica das coisas utilitárias.
Os movimentos rijos e atrofiados nas articulações. Nada mais fluia. Tudo entornava. E com pressa.
Um instante de luz nas retinas um atropelamento que não acontece e mais um mimo pro mundo das possibilidades. Na superfície das superficialidades os sentidos se forjavam sem pausa dramática ou espaço para retirada de cena. É o aqui-agora gritando a ação de passos certos. É a multidão sem face. É o desbotamento da situação. É o diluir-se à quem não se sabe. Tudo é identitário. Eu nada.

6 comentários:

Elmo Thompson disse...

...sabe, Rachel, esse teu texto, desde a primeira linha, lembrou-me muito um conto do meu queridíssimo Caio F., o "Além do ponto", lá do seu mofo de morangos. E lembrou-me pela mesma sinestesia: entre chuvas intermináveis, gotas de um incômodo que vai crescendo, tanto a ponto de esmurrar uma porta que jamais se abrirá, lá, quanto achar-se reduzido a nada, aqui. Por mais que chova, a chuva é sempre a mesma...

Beijão,

do Elmo =D

PS: logo no início, você escreveu "oxidadava"...

Rachel Souza disse...

Obrigada, Elmo!
Já consertei o "Oxidadava", embora tenha gostado do resultado do erro... Será "oxidadava" uma oxidação dadá?rs Se for, faz bem mais sentido.rs
Não li "morangos mofados", mas preciso.
Beijo

Guilherme Gonçalves disse...

Rachel e sua pena de um fogo frio. Instigante e infinitivamente pessoal.
Te encontro no caminho.

Guilherme Gonçalves

Elmo Thompson disse...

...hahaha! Engraçado, quando li, pensei a mesma coisa, digo, se não seria um erro acertado, masss, como tenho essa verve - diga-se de passagem, chatíssima - de "revisor", não me contive e apontei rs. Contudo, de fato, até que ficou charmoso...hehe. E leia os morangos do Caio quando puder, são tão deprimentes quanto esperançosos. Strawberry fields forever...

Outro beijão!

do Elmo

rafael disse...

chove la fora torrencialmente todas as dores que meu/seu coraçao
chora.

paulo fontes disse...

Rachel,
com a alma fragilizada nos encontramos hoje para nos despedir da nossa amada Wanda, tua avó e minha tia e madrinha.
Teu texto sobre a chuva me fez lembrar os versos de um canção do Kiko Zambianchi, que dizem:
"se um dis eu pudesse ver
meu passado inteiro
e fizesse parar de chover
nos primeiros erros
ah, minha vida seria sol
o meu corpo seria sol
mas só chove, chove, chove...
beijos
paulo fontes