segunda-feira, 29 de março de 2010

Da série R/C

Quando comecei a pensar a arte pública como meio para o texto, como pretexto para a poesia e, como, também,ferramenta sócio-política, não tinha nem idéia de como a prática me seria impactante. A potência dialógica da coisa é tremenda, ainda mais quando considerado o local da intervenção/mensagem/obra, o homem da foto é um reflexo de todos os outros em situação de mendicância, um homem sem rosto. Esse lambe-lambe, como é bem comum, não durou muito tempo, na verdade durou o tempo da cidade, o ritmo ditado pela urbanização e suas questões . No dia seguinte a Nova Rio retirou, mas nesse caso signo e o diálogo formadores da aderência são mais importantes que o objeto em si.


*Em tempo: Parte de um trabalho meu com a Cassia.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um dia

Abriu a sacola do mercado que havia esquecido há 3 dias sobre o sofá rasgado da sala. A espuma verde do estofado velho, a sacola plástica, o líquido de carne apodrecida se espalhando pelas coisas. Revirou a sacola, tirou uma lata de não sei o quê, cinco quilos de arroz num saco bege, um real de pão e a carne. Levou-a pingando até a cozinha, atravessou o corredor de casa deixando uma trilha fétida e viscosa de morte. A barriga roncava à fome e ressaca. Jogou o saco da carne na pia, rasgou, abriu a torneira e deixou a água escorrer. O vermelho se misturando, se diluindo, o cheiro se esvaindo aos poucos, a barriga ainda roncando, a cabeça latejando a cerveja de ontem, os olhos e a boca ressecados, a água descendo... Pegou a frigideira dentro do armário, jogou meia lata de óleo, testou as quatro bocas do fogão, acendeu a única que funcionava, pegou parte da carne, jogou sal e fritou. Mastigou a seco e foi para seu quarto mudar de roupa. Se arrumou atrasado pro trabalho. Rasgou fotografias. Esqueceu de escovar os dentes. Tudo na mesma manhã em que soube ter nascido de cesariana.

Encostada ao balcão sem grandes expectativas

Ó, é hambúrguer sem queijo. Moça, tem troco pra dez?Se for em moeda agradeço,viu?! Ah, pode trocar o tomate pela cebola? Prefiro... Dizem ser melhor pra circulação e tal. Não acredito em muita coisa, só em Sartre e nas cebolas... Sabe moça, crescer dói e não é só nos ossos que a coisa pega. É eu sei que você sabe. É só retórica, moça... É pra dar a falsa impressão de que o tempo tá passando rápido e a espera não ser tão angustiante, puxar assunto e blá. Adoro! Não posso ver ninguém calado, o tempo e o preço do feijão sempre rendem algum assunto. O quê? Não come feijão? E sua saúde? Bom, além de Sartre e as cebolas, tenho tentado acreditar no feijão também. Aos poucos vou adicionando importância às coisas e a vida vai ganhando sentido. Tá vendo essa tatuagem aqui, essa aqui ó... Então, pois é. Bonita né? São dizeres em sânscrito. Nem sei o que significa, cada semana invento uma tradução pra ela. Já comi muita gente com essa história! Tá rindo? É verdade! Sou mulher, tenho que ter esses truques, não uso maquiagem. Ahh, que isso!Simpática eu? Tem que me ver de bom humor... Não tô bem hoje. Acordei, tomei um calmante, um gole de suco de caixinha e vim pra cá almoçar. Moro só e não tem nada na geladeira com menos de dois meses. Fiquei com medo. Isso, isso, sem queijo!


*Deu vontade de publicar novamente.

*Leia com música. Escolha a sua.



terça-feira, 23 de março de 2010

Direito à Cidade

Fórum Social Urbano é aberto com manifestações e discurso de intelectuais

Realizado no Rio de Janeiro, o evento reúne milhares de pessoas e é um contraponto ao evento oficial das Nações Unidas



Foi aberto ontem, dia 22/04, o Fórum Social Urbano, no Rio de Janeiro. Após uma manifestação que aconteceu pela manhã em favor do direito à cidade – e que foi duramente reprimida pela polícia nas proximidades do fórum oficial das Nações Unidas – aconteceu a palestra que deu início ao evento.

Na mesa de abertura, importantes intelectuais ligados aos principais movimentos sociais urbanos. Foram convidados a urbanista Raquel Rolnik, relatora da ONU pelo direito à moradia digna e professora da FAU-USP, o norte-americano David Harvey, professor da Universidade de Columbia (EUA) e Erminia Maricato, também professora da FAU-USP. O professor Peter Marcuse, professor da Universidade de Columbia não conseguiu chegar a tempo por conta de um problema com o visto, mas enviou o texto que leria durante o evento.

Na íntegra: http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=2278&PHPSESSID=e0f67c3e36e67655f8e36dc026ed8584

domingo, 21 de março de 2010

A ciência da arte

Logo cedo 3 ônibus e uma garganta inflamada pela chuva e resquícios de boemia. Segunda-feira nas barcas, reunião para abertura do semestre na pós em Artes da UFF. Tossia tanto que a cabeça doía. Difícil manter a concentração no que quer que fosse, apreendi o máximo que pude entre goladas de cinco ou seis copinhos de café e uma estilhaçada no biscoitinho da cesta. O mestrado e suas exigências, passo a passo. Apresentações e regras de sobrevivência possível. “Isso assim assado até maio no máximo”; “Os prazos não são lá muito esticados”; “Temos uma exposição a ser feita. Quem participa?” ; “Já conhecem as revistas? Uma delas foi usada na seleção de doutorado da UERJ. Quem quer escrever nela?”; “Tchau e boa sorte!”

O primeiro dia daquilo tudo começava em tom de ameaça amistosa e coceira. Senti acolhimento, creio que minha pesquisa será bem feita, as intenções são as melhores e já tenho orientador escolhido. Mantive o foco na respiração e deixava o fluxo do pensamento seguir seu próprio ritmo frenético, não me ative. O espaço era de absorver o novo, de me estabilizar no que, nos próximos dois anos, tomaria parte da minha vida. Espaço e momento de olhar na cara de com quem a convivência se daria. Percebi que além de tudo, meu Modus operandi é de artista, minha intuição, meu jeito de pesquisar, de lidar. Estava no meio de alguns, tenho a quem pedir ajuda futuramente. Aquela insegurança de quem não sabe pra onde ir, de qual palavra escolher no momento da criação, no momento do poema, bateu. Por vezes queria ter a sensação de segurança de ter chegado a algum lugar. Paulo José diz que isso é pros idiotas, insegurança bem usada já fez maravilhas na arte e que nos dá a dimensão do humano.

Cambaleante na tosse percorri a trilha dos restaurantes baratos do Ingá. Almoçar, trocar meia dúzia de palavras de incentivo e boas-vindas com os convivas e assistir a aula inaugural da temporada: “Teoria das estranhezas”! Para além do nome intrigante, descobri um professor de nome igualmente esquisito e apaixonado pelo ofício da coisa. Um ser que propõe o estudo da etimologia do objeto, das palavras, e da palavra “objeto” e que, entre mil coisas, defende a idéia de serem alucinação e realidade, coisas iguais. Coisas que só se dissociam de acordo com o ponto de vista. Cada qual estranha de uma forma o protomorfo alheio. No dia seguinte, “Arte e sistemas semióticos” e a tarefa de apresentar um livro do Barthes para um homem que tem pós-doc em... Barthes! O homem é bem-humorado. O homem demonstrou preocupação com minha tosse. Não será tão terrível. Chove muito e teria mais uma aula na semana, precisaria de mais saúde. A tosse aumenta. Duzentas coisas para ler. Uma nova amiga me acompanha. Vou me desligando. O foco é conseguir chegar bem até as barcas. Assim, a mente em silêncio com barulho de ônibus

sexta-feira, 12 de março de 2010

Trem azul. Sol na cabeça





Viajar é ótimo! Encontrar coisas interessantes ou intrigantes, escolha o seu adjetivo, é igualmente ótimo. Peça uma pizza e anote as "Dicas para viver com entusiasmos". E lide com isso! rs

sexta-feira, 5 de março de 2010

Abra a porta, entre!

Pronto! Gravura da Lyrio e Diagramação do Victor e a casa nova!
Pra celebrar uma música do Hurtmold...