sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rebaixo

Acordou ainda embriagado, abriu os olhos, teve a clara percepção do teto se movendo, fechou os olhos, começou a chorar. Em seus incentivos internos ouvia uma voz de coragem e sabedoria. Tentava, aos poucos e em contorções, se dedicar ao despertar digno de um homem maduro de 65 anos, pai de sete filhos e três abortos. O teto, ainda em movimento, despedaçaria cada parte do ser ali deitado, sem forças, sem ânimo, em questão de risadas a coisa estaria feita. seu corpo estriado seria um ícone do acerto de contas astral,seria uma prova do "aqui se faz, aqui se paga". Gritando de medo, levantou da cama, pôs a mão direita nas gorduras, investimento de anos, com a esquerda se apoiava nas coisas até achar um cutelo. Não só o teto, agora o chão tremia e ondulava em desacerto. Ele, choro, grito,incertezas,calça apertada... Cantarolando uma música evangélica,cutelo em mãos ligou pra uma das filhas e disse,voz rouca: Vai começar.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dois em janeiro

"É azul?"
"Hein? O que é azul?"
"Azul, a cor pra usar é essa, não?
"Depende...Tá querendo atrair o que exatamente?"
"Não. Você não entendeu. Dizem que é ano de yemanjá e que ela tem uma cor que não lembro qual e que s..."
"E?"
"Calma,tô falando ainda!"
"vai"
"Então... que é ano de yemanjá e que ao usar a cor dela temos um reforço na proteção astral e tals."
"Tá, mas a Cléia me deu outra informação."
"Qual?"
"Que o ano é de Oxum e que o amarelo é que vai bombar. Com amarelo e doze uvas verdes no bolso c vai criar contexto no céu,maluco!"
"Será?"
"Se joga no amarelo! Aproveita e pede pra mudar de emprego, pra sair daquele merderê que só te explora."
"Pô, Oxum tem esse poder? Se tiver, vou pedir um aceno de cabeça de vez em quando e uma visibilidade maior,sabe?!"
"Visibilidade?"
"É. Às vezes tenho a sensação de ser embaçado feito neblina de Teresopólis, de ser invisível."
"Conhece Teresópolis? Sabia não..."