terça-feira, 30 de setembro de 2008
Henry Miller
*Do livro Plexus.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Webradio
Criação coletiva de uma webradio a partir da apresentação e discussão de trabalhos de arte sonora e interferências na cidade, fixando a idéia de que o rádio e a webradio são ocupações do espaço sonoro e que podem modificar o paradigma da produção e distribuição de conhecimento no sistema da arte.
Dias: 02, 09,16, 23 e 30 de Outubro
Horário:18h às 21h
Local: Unidade Tijuca
Rua Barão de Mesquita, 539.
Inscrições: 3238-2076 / 2168
tijuca.geringonca@sescrio.org.br
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Entre os dois um diálogo (Por Elmo Thompson)
Falava. Enquanto isso um cheiro absurdo de fumaça de cigarro. Odeio cigarro. Sua fumaça também. Impregnada em minhas roupas – em todas elas – sou obrigada a me sentir fedida por aquele veneno de que ele tanto gosta. Usa um perfume forte; de que adianta? Já lhe disse isso também – mas de que adianta?
“...é a vida... C’est la vie, como dizem os franceses. Se bem que eu acho que nenhum francês diz isso. Besteira... É só pra mostrarem como deixam que a gente se apodere de um pedacinho de nada da língua deles, um pedacinho tão pedacinho que eles nem usam...”
Não sei por que eu continuava insistindo nisso. Só de relance eu podia ter previsto. Besteira a minha de achar que dessa vez seria diferente, que haveria volta. Volta, entretanto, pressupõe um algo de antes, melhor. Melhor, não. Não necessariamente. Mas não isso. Isso de agora. Isso de agora eu não suporto.
“...dizem que não tem mais jeito, né. Putz, quando soube disso lembrei de ti. Na mesma hora. Fiquei me perguntando: que que será que ela tá pensando disso?”
Se me dignasse a responder, diria que: nada, não pensei e não tô pensando em nada. Somente em sair daqui e nunca mais voltar. Não pra antes, pr’aquele algo. Nem precisa de tanto. Contanto que não seja aqui, com ele. Ele que já foi de tudo um pouco pra mim. No momento não mais do que um corpo estranho, falante e irritante.
“...mas assim, por que é que você não se desprega dessa janela desde que chegou? Anda, vem tomar um trago comigo. Não precisa nem fumar, sei que não é muito chegada na erva. Mas pelo menos olha pra mim...”
Continuei na mesma posição, observando o descolorido dos outros prédios ao redor. Num deles uma mulher trocando de roupa, lentamente, a preparar-se para um encontro. Amante? Com certeza. Eu ficaria com o vermelho, se fosse ela, mas... Noutro havia um homem se masturbando em plena tarde de quinta-feira, sentado numa banqueta de madeira com uma revista na mão. Visão aguçada: era de homem. Homens. Pelados. Transando. Quem diria, um cara com uma cara tão de macho... Mais adiante, uma família almoçando, quieta, concentrada: o pai numa cabeceira, a mãe na outra, os filhos no centro. O menino tinha uns olhos tristes vidrados no copo com suco. Parecia um pouco comigo.
“...ei, o que tá vendo de tão bacana aí pra nem me ouvir?”
Levantou-se e veio até mim. Escutei o barulho do copo com uísque até a borda batendo contra o tampo da mesinha que eu lhe dera num aniversário distante. O cheiro do cigarro mais perto. A fumaça lentamente impregnando-se ainda mais fundo na minha roupa. O cheiro dele mesmo, tão característico, agora talvez a pouquíssimos centímetros de minhas costas. Estremeci de repente num calafrio, como se dois corpos de mesma polaridade se aproximassem. Forças de repulsão agiam loucas, mas de nada adiantaram: seu braço esquerdo pousou em meu ombro.
“...ah, já tá anoitecendo. Daqui a pouquinho o sol se põe. Por isso você tá aqui. Me lembro que você toda vez insistia em ver o pôr-do-sol... Antes”.
Antes. E um leve incômodo instaurou-se no ambiente, tão fino como a penumbra de fumaça que perene embaçava o apartamento. A mão no ombro escorregou com braço e tudo até a cintura. Estremeci ainda mais forte. Calafrio. Forças de repulsão. Cargas se repelindo e por isso se unindo. Sempre achei que fosse balela, mas naquele momento de anoitecer, de sol indo-se embora, com a luz em lusco-fusco, acontecia de modo a não parecer tão canhestro, apesar de a mão ser a esquerda.
“...você entende um monte dessa parada de estrelas, né? Eu gostava de ouvir. Mas não vou pedir pra ti... não precisa...”
...eu sei, me deu vontade de completar. Permaneci parada em frente à janela com aquela mão na minha cintura, arrepios contidos e na nuca um bafo agridoce de bebida com fumaça que se colava também à minha pele. Senti-me impura, incongruente, traidora de mim mesma. Prometi-me que não mais aconteceria. Mas prometer algo a si mesmo é estar fadado à traição. De certo modo eu já sabia disso. E talvez por esse motivo é que não deixava de ir, todas as quintas-feiras, quando me ligava, dizendo:
“...pô, vem, não tô fazendo nada, nem você, eu sei. Deixa o trabalho pra depois e vem pra cá, pra tomar uns tragos, fumar uma erva. Se não quiser pode vir só pra me fazer companhia, como sempre. Não farei nada, como sempre. Como queira. Não quero mais te magoar...”
Coisa de filme. Parecia decorado. Devia até ser, pois foi a única maneira de me convencer a voltar lá, depois de tudo o que já acontecera entre nós. Entre nós dois já acontecera de tudo, tudo quanto seja possível imaginar. Quando duas pessoas chegam a seus limites, quando não há mais o que surpreenda um ao outro, então o que resta é esse estranho lugar-comum de arrepios em um anoitecer de quinta-feira: uma fala forçada e qualquer que bastava pra que nós dois cumpríssemos o nosso papel.
“...uma estrela cadente... Ali, olha! Faça um pedido. De olhos fechados, hein... Isso...”
Pedi. Com fervor de uma vela acesa. Não havia nuvens no céu estrelado. A lua, também não havia, escondida por detrás do homem limpando-se depois do orgasmo; a mulher já saíra em seu conjunto de vestido e sapatos azul-turquesa (eu ficaria com o vermelho... amante... dá sorte...); a família acabara de comer: a cabeceira vazia, e mais um lugar vago. Apenas o menino sentado com os olhos vidrados onde antes estivera um copo com suco. Antes. Sempre antes. Do sussurro, escutei apenas o trecho final:
“...me perdoa...”
Parecia comigo. Disse:
- Te perdôo.
E foi o que desejei à estrela. Antes. Sempre antes.
* Isso é de um amigo e um puta contista. Além das duas qualidades é também mestrando em literatura pela UFRJ e crítico, muito crítico literário.rs
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
A tarde, como sobremesa
"Trecho do conto "onze jantares" de Marçal Aquino.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Fragmentos de existência
Chegou de cabelos molhados, unhas pintadas de uma cor semelhante ao rosa, ou talvez lilás, um olhar obtuso de matutar sofismas e uma ferida na coxa direita que sua saia curta e atochada não conseguia esconder. Prendi meu olhar atento às suas carnes volumosas por algum tempo, me dei ao trabalho de vasculhar seu corpo detidamente até onde suas roupas mínimas permitiam e teci um comentário. Ela me olhou sem resquícios de alma ou coisa que o valha, tirou o canivete do sutiã e pôs em cima da mesa. Eu, ainda olhando, perguntei se estava com fome. Disse que tinha comida na panela, que tinha feito angu. Sem resposta, acendi um cigarro e comuniquei o cancelamento do nosso plano de saúde.
Dei umas quatro baforadas, levantei do sofá, dei mais cinco baforadas, traguei uma e fui a sua direção largando guimbas pela casa. Ela, se esquivando felinamente, abaixou a cabeça, passou a mão pelo pescoço e virou. Pus a mão, com o cigarro entre os dedos, em seu queixo, ergui seu rosto e fitei seus olhos com profundidade até então desconhecida. Fiquei assim por instantes, nenhuma palavra dela, nenhuma minha. Noite de silêncio e fumaça! O que dizer a ela? Que a esperei por toda a noite ali, sobre um estofado com sinais de mofo? Que bebi metade do meu salário numa noite desgraçada de ausências? Que revirei seus pertences e chorei feito um pirralho desmamado?
Grotesca, arqueou as sobrancelhas. Sacudiu a bolsa e entre preservativos e bilhetes mal- escritos despejou incentivos monetários ganhos à custa de seu ventre provocador e o agonizante arfar de babacas
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Frases de efeito
Eu te bebo, eu te fumo...
Fui rolando na vida e esbarrei em você."
*Li recentemente no Blog de uma amiga(Sabina anzuategui), uma citação de Alcione Araújo e Alcione, a Marrom. A discussão literária sobre pausas no texto ficou em segundo plano, viajei e achei a frase da Marrom, tão espetacular e genuína que não resisti. E não, não é cafona. É kitsch!rs
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Encostada ao balcão sem grandes expectativas
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Desejo
*Tá no livro!
Rilke
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração."
sábado, 6 de setembro de 2008
O morto da segunda-feira
O malandro caminhava na praça imune aos cochichos e olhadelas das moçoilas desejosas de sua atenção e dos moços vingativos e traídos. Um molejo, um requebro no andar, uma ginga. Nas artes do amor e da vida fácil era menestrel, assim como no samba de Noel. Descia o salgueiro e passeava imperial pela praça Saenz Peña, deslizava pelas ruas da Tijuca sob o sol a dourar-lhe a carcaça curtida pelo álcool e pela vagabundagem. Andava, andava, andava... Cumprimentava um e outro com sorrisos e apertos de mão, visitava seus três filhos e prometia levar leite na próxima vez, alegava incompreensão do mercado de trabalho, a exigir-lhe referências demais. Preocupado com o que fazer pra arrumar algum, escolheu o estabelecimento alvo da vez e pôs-se de plantão até conseguir a oportunidade de afanar o patrimônio alheio, um mercadinho na José Higino. Saiu contente, após duas horas de conversê, com dinheiro e mantimentos. Ao virar a rua, encontrou Jurema e seu sorriso elétrico, aceso na esperança de uma tarde de paixão e loucura. Entusiasmado, o malandro assentiu, sob a condição de uma feijoada completa, com couve mineira e farofa de bacon, Jurema com franqueza peculiar, disse sim lhe descendo a braguilha da calça surrada e acenando sua casa na Conde de bonfim. Refestelaram-se de luxúria e gula, dois pecadores mantidos pelo “patrocinador” de Jurema, o “senhor que ajuda”, como gostava de chamá-lo. Completamente saciado, saiu, o abusado, rumo ao samba, onde encontraria outra gentil senhora. Planejou a noite enquanto ajeitava os trajes, saiu da casa saltitante sem perceber que alguém o seguia, um alguém abandonado pelo malandro, rejeitado em suas melhores demonstrações de afeto, um alguém de alma dilacerada... Rosinha, um travesti magrinho, desnutrido e desvalido permaneceu em seu encalço. O malandro nada percebeu, até chegar à rua Aguiar... Rosinha,chorando o desprezo,tirou seu canivete da bolsa e o surpreendeu com uma estocada no peito. Ele ficou ali, com a blusa branca de linho ensopada de sangue, um corpo de quinta, num dia de segunda.
*Esse fez parte de uma antologia para comemorar os 30 anos de fundação do Sesc-tijuca. Uma parceria entre o Sesc e o Sobrado cultural. Gostei da brincadeira.rs
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Adélia Prado
Nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
o que parece estático, espera."
*É isso!
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Dulcina/Revista
então vá lá: http://movimentodulcynelandia.blogspot.com/
e lá: http://revistachute.blogspot.com/
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Devaneio( Por Rafael)
Há quanto tempo não sonhamos
Que ainda nessa vida realizaremos nossos pequenos sonhos?
Outro dia desses lembrei de você. Uma criança triste se aproximou, apertou meu peito ternamente, fez rolar uma lágrima cristalina.
Saí correndo com medo do cotidiano e pulei do vigésimo andar com um sorriso no canto da boca.
*Ó, não é meu não. Esse é do meu pai,viu caboclada?!
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Querido,
Casei há pouco, você sabe?! Coisa linda, bolo de noiva de