sábado, 28 de fevereiro de 2009

Passagem

Tirou seus pertences da bolsa de tecido colorido comprada na lojinha do chinês da esquina e fez uma breve avaliação do que deveria ou não ser posto fora. O tecido, semi-translúcido ao sol, destoava de seu figurino em tons de bege. Era uma mulher discreta, sempre fora. Não haveria de ser agora, após o surgimento dos cabelos brancos e das varizes mais profundas, que mudaria. Não era de mudanças também. Ao todo suas características mais marcantes eram essas, a discrição e a aversão à mudanças, além dos lábios grandes, agora menores e pendentes em sulcos marcados na pele flácida de gozos e dissabores.
A questão era simples, ver o que prestava ou não e jogar no lixo. Uma seleção das tranqueiras que as feminices suportam. Recostada ao poste, sem eira nem beira, passagem subterrâneas de ida, apenas ida, teve um lapso de memória. O sol era forte. As pessoas olhavam. Sentiu a pressão oscilar e a vista falhar, mais uma das sacanagens que lhe chicoteiam a existência. Perdeu-se em meio à caixas de remédio e receitas velhas. As chaves de casa e a foto 3X4 do neto mais velho pendendo das mãos enrugadas. Talvez fosse Alzheimer, atestou a medicina. Desmaiou no chão de urina. O relógio marcava 12:30 e 40º à sombra.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Com...

...Quantos burgueses se faz um hambúrguer?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cia dois banquinhos






De um lado, um palhaço que percorre feiras, praças e ruas em busca da alegria do cotidiano popular.
Do outro, um mímico encantado pelas arquiteturas das grandes cidades, em busca do diálogo com as pessoas no dia-a-dia. Curiosos e perdidos pelas ruas, resolvem realizar seu trabalho e se encontram na mesma praça.
Entre um jogo de carta, comunicação através de placas, poemas e uma boa conversa, o que não falta é um lugar para sentar. Seja no metrô, numa escada rolante ou até mesmo debaixo de um sinal...
*Arte de rua,tão arte quanto as protegidas por paredes,palco italiano,árabe,irlandês... No Brasil é foda ser artista e laiás e tal. Palhaços amigos = Vinicius Longo e André Pateta.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Artes plásticas no Canequinho


Registro de trabalho!


Jonas Aisengart(Atelier 302)

Cassia Lyrio (coletivoTarjapreta)

Tahian Bhering(Atelier 302)
#Fico feliz de ter conseguido mostrar um cadinho mais do trabalho deles. Os cabra não tão de brincadeira não!rs

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Domingos e a fúria



Imagens e edição de Mariana Abbade

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Os óio da cobra verde

"Nine out of ten movie stars make me cry,I'm alive!"

#Gosto de usar somente a língua mátria,mas essa frase me diz tanto no momento. E foi desferida por um brazuca,portanto é válida.rs

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Autor/Ator/Burguês



*Vittorio de Sica, um diretor italiano com estética neo-realista produziu, assim como outros cineastas desse movimento, filmes abordando questões sociais sob a visão/situação do proletariado, especialmente no pós-guerra. Achava que para passar verdade, em algumas produções era necessário trabalhar com atores não profissionais próximos da realidade da personagem. Sem mais blá,blá,blá... "Ladrões de bicicleta" é um filme bonito, assistam. ó só um trecho de um documentário em que ele explica a necessidade dos não-atores,é interessante:

" Eu quero explicar que minha posição em relação aos atores,ou melhor, aos meus colegas,não é polêmica... é mesmo uma necessidade... Todos os filmes de caráter popular precisam de personagens que se afastam muito daquela que é a profissão do ator. O ator é um burguês!
O ator nunca conseguirá ser o operário de "Ladrões de bicicletas." Até o "Umberto D", ainda que burguês, não poderia ser feito por um ator. Porque entre os excelentes atores, os grandes atores, não havia o rosto de Umberto D. E, além disso, há milhões de personagens enquanto os atores são 30,40,50,60... Mas as personagens são muito mais numerosos que os atores e nem todos têm o rosto de todas as personagens que podem surgir da fantasia de um autor."

Casal Honesto


"Não conheceu muitas mulheres, conheci vários homens... Formamos um casal honesto."

*Do filme "Jules et Jim", de Truffaut, quando Catherine aceita o pedido de casamento de Jules.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Prejudicada pelo calor intenso

Não tinha idéia do quanto queria algo maior que suas próprias dúvidas e demências diárias. Não calculava. Não sabia mensurar, simplesmente. Ouvia sempre, às 5:30, o vendedor de jornais gritar notícias de ladroagem grossa,política suja. Não entendia muito bem o porquê das coisas, mas não pegava bem andar por aí sem opinião formada sobre tudo. Mil vezes o conhecimento raso e rasteiro do que conhecimento algum. Sua vó estava certa... Mulher tem que rir e se mostrar razoavelmente bem-informada. Comprou o jornal. Lambeu feridas sociais descascadas embaladas pra presente,embrulho do peixe de amanhã. Cartas, Chave do trabalho esquecida em cima da mesa. Mulher flutuando em passos zombeteiros. Barulhinho de pássaros e Kenny G no elevador. Tristeza cósmica de dentes cariados sobre gengivas inflamadas. Por conta das filhas e do marido resolveu não mais um monte de coisas.Não mais fumar,não mais beber,não mais chegar tão tarde,não mais ganhar tão pouco,não mais trepar com qualquer um,n]ao mais reclamar da celulite. Não será feita nenhuma exceção,”não mais” um monte de coisas! Ela veste preto e cabelos tingidos de acaju. Ela tem fome e precisa se livrar daquela tendência pra morte. O fato é prontamente espalhado aos parentes e agregados: ”Alimentem-na,façam cócegas na infeliz”. Ela fugia das reuniões familiares e pintava as unhas com o descrédito das tardes de domingo. Abandonou o amante fixo e recomeçou projetos de segunda-feira. Saiu destinada a secar os vasinhos da perna, pequenas varizes azuladas de calibre médio.

Baba antropofágica


Volto djá!