Tirou seus pertences da bolsa de tecido colorido comprada na lojinha do chinês da esquina e fez uma breve avaliação do que deveria ou não ser posto fora. O tecido, semi-translúcido ao sol, destoava de seu figurino em tons de bege. Era uma mulher discreta, sempre fora. Não haveria de ser agora, após o surgimento dos cabelos brancos e das varizes mais profundas, que mudaria. Não era de mudanças também. Ao todo suas características mais marcantes eram essas, a discrição e a aversão à mudanças, além dos lábios grandes, agora menores e pendentes em sulcos marcados na pele flácida de gozos e dissabores.
A questão era simples, ver o que prestava ou não e jogar no lixo. Uma seleção das tranqueiras que as feminices suportam. Recostada ao poste, sem eira nem beira, passagem subterrâneas de ida, apenas ida, teve um lapso de memória. O sol era forte. As pessoas olhavam. Sentiu a pressão oscilar e a vista falhar, mais uma das sacanagens que lhe chicoteiam a existência. Perdeu-se em meio à caixas de remédio e receitas velhas. As chaves de casa e a foto 3X4 do neto mais velho pendendo das mãos enrugadas. Talvez fosse Alzheimer, atestou a medicina. Desmaiou no chão de urina. O relógio marcava 12:30 e 40º à sombra.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Cia dois banquinhos
De um lado, um palhaço que percorre feiras, praças e ruas em busca da alegria do cotidiano popular.
Do outro, um mímico encantado pelas arquiteturas das grandes cidades, em busca do diálogo com as pessoas no dia-a-dia. Curiosos e perdidos pelas ruas, resolvem realizar seu trabalho e se encontram na mesma praça.
Entre um jogo de carta, comunicação através de placas, poemas e uma boa conversa, o que não falta é um lugar para sentar. Seja no metrô, numa escada rolante ou até mesmo debaixo de um sinal...
Do outro, um mímico encantado pelas arquiteturas das grandes cidades, em busca do diálogo com as pessoas no dia-a-dia. Curiosos e perdidos pelas ruas, resolvem realizar seu trabalho e se encontram na mesma praça.
Entre um jogo de carta, comunicação através de placas, poemas e uma boa conversa, o que não falta é um lugar para sentar. Seja no metrô, numa escada rolante ou até mesmo debaixo de um sinal...
*Arte de rua,tão arte quanto as protegidas por paredes,palco italiano,árabe,irlandês... No Brasil é foda ser artista e laiás e tal. Palhaços amigos = Vinicius Longo e André Pateta.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Os óio da cobra verde
"Nine out of ten movie stars make me cry,I'm alive!"
#Gosto de usar somente a língua mátria,mas essa frase me diz tanto no momento. E foi desferida por um brazuca,portanto é válida.rs
#Gosto de usar somente a língua mátria,mas essa frase me diz tanto no momento. E foi desferida por um brazuca,portanto é válida.rs
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Autor/Ator/Burguês
*Vittorio de Sica, um diretor italiano com estética neo-realista produziu, assim como outros cineastas desse movimento, filmes abordando questões sociais sob a visão/situação do proletariado, especialmente no pós-guerra. Achava que para passar verdade, em algumas produções era necessário trabalhar com atores não profissionais próximos da realidade da personagem. Sem mais blá,blá,blá... "Ladrões de bicicleta" é um filme bonito, assistam. ó só um trecho de um documentário em que ele explica a necessidade dos não-atores,é interessante:
" Eu quero explicar que minha posição em relação aos atores,ou melhor, aos meus colegas,não é polêmica... é mesmo uma necessidade... Todos os filmes de caráter popular precisam de personagens que se afastam muito daquela que é a profissão do ator. O ator é um burguês!
O ator nunca conseguirá ser o operário de "Ladrões de bicicletas." Até o "Umberto D", ainda que burguês, não poderia ser feito por um ator. Porque entre os excelentes atores, os grandes atores, não havia o rosto de Umberto D. E, além disso, há milhões de personagens enquanto os atores são 30,40,50,60... Mas as personagens são muito mais numerosos que os atores e nem todos têm o rosto de todas as personagens que podem surgir da fantasia de um autor."
Casal Honesto
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Prejudicada pelo calor intenso
Não tinha idéia do quanto queria algo maior que suas próprias dúvidas e demências diárias. Não calculava. Não sabia mensurar, simplesmente. Ouvia sempre, às 5:30, o vendedor de jornais gritar notícias de ladroagem grossa,política suja. Não entendia muito bem o porquê das coisas, mas não pegava bem andar por aí sem opinião formada sobre tudo. Mil vezes o conhecimento raso e rasteiro do que conhecimento algum. Sua vó estava certa... Mulher tem que rir e se mostrar razoavelmente bem-informada. Comprou o jornal. Lambeu feridas sociais descascadas embaladas pra presente,embrulho do peixe de amanhã. Cartas, Chave do trabalho esquecida em cima da mesa. Mulher flutuando em passos zombeteiros. Barulhinho de pássaros e Kenny G no elevador. Tristeza cósmica de dentes cariados sobre gengivas inflamadas. Por conta das filhas e do marido resolveu não mais um monte de coisas.Não mais fumar,não mais beber,não mais chegar tão tarde,não mais ganhar tão pouco,não mais trepar com qualquer um,n]ao mais reclamar da celulite. Não será feita nenhuma exceção,”não mais” um monte de coisas! Ela veste preto e cabelos tingidos de acaju. Ela tem fome e precisa se livrar daquela tendência pra morte. O fato é prontamente espalhado aos parentes e agregados: ”Alimentem-na,façam cócegas na infeliz”. Ela fugia das reuniões familiares e pintava as unhas com o descrédito das tardes de domingo. Abandonou o amante fixo e recomeçou projetos de segunda-feira. Saiu destinada a secar os vasinhos da perna, pequenas varizes azuladas de calibre médio.
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