sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cartas, Rilke, Artigos e mensagens(ou Sobre arte e seus cavalos)

#Fazendo uma pesquisa no google acadêmico, para início de um dos três artigos que tenho que escrever, dei de cara com esse trecho de "Cartas a um jovem poeta" do Rilke. Como sim, sou mística, não pude deixar passar essa.



Paris, 17 de fevereiro de 1903

Prezadíssimo Senhor,


[...] Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo -, peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém.

Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa sua vida de acordo com essa necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão.

Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes.

Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza - relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente.


Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre a sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? [...] Se depois dessa volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará a perguntar a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por seus trabalhos. [...] Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser artista, Nesse caso, aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora.

[...] Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.) Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.[...] Com todo o devotamento e toda a simpatia,(...).

Um comentário:

Ana Muniz disse...

Tirou suspiros e acendeu a vontade criadora.
inspirar-me-ei.
eis a ordem.

;)

Bjs!