Marcos estava sem nada para fazer. Lembrou de um binóculo que tinha desde criança e começou a olhar para a janela do prédio em frente.
Passou displicentemente sua lente, procurando algo que o prendesse a atenção, nada, absolutamente nada! Que merda!Pensou irritado.
Pegou o cachimbo, acendeu, deu umas baforadas enquanto ajustava seu maquinário. Olhou para a janela de baixo, viu apenas um homem obeso assistindo ao futebol. Subindo mais, viu um velho dormindo. Para a direita, uma senhora cozinhando. Na outra, duas crianças brincando... -Ô vizinhança caída! Resmungou sacudindo o cachimbo na boca.
Mas quando subiu mais o binóculo as coisas começaram a melhorar. Viu um quarto aparentemente feminino e cinco segundos depois uma bela mulher, vestida de saia, meia-calça preta, sapato de salto vermelho e terninho, entrou no cômodo. A dona tinha um traquejo, um jeito de andar que mais parecia uma gata mansa, uma felina distraída, ela veio compassadamente, malandramente e foi tirando peça por peça... Primeiro foi o blaser, Vestia por baixo dele uma camisa branca, com acabamento de renda e alcinha.
E foi tirando a saia, desceu o zíper, deslizou aquele pedaço de pano pelo corpo... Pronto!Agora só falta o resto... Tirou o sutiã cor de champanhe e revelou seios grandes como um melão, formato ovalado, auréolas escuras e mamilo apontando para o infinito.
-Ai, cacete!Agora só falta a calcinha...Tira logo essa porra, anda, tira! Marcos na torcida, e a torturante mulher senta-se singela em sua cama e,começa a lixar as unhas. Ela pega seu I-pod, parece entretida, e Marcos desesperado. Desesperado com o mistério criado por ele que imaginava ser uma atitude proposital da vizinha. "Será que ela me viu olhando pelo binóculo através do espelho?", pensou. Hipnotizado e transtornado o maníaco nem pisca, mantem-se alerta aos movimentos da pantera-mulata-torturante, dá baforadas fortes em seu cachimbo, chega até a queimar o beiço. A campanhia berra, é o entregador de pizza. Ele se aborrece, sente vontade de matar o infeliz. Pega o dinheiro e entrega de uma forma agressiva:- Já paguei, tá esperando o quê??Sai fora pela saco!! O entregador, que já era até amigo de Marcos pelas tantas pizzas que já entregou em sua casa, se espanta, se aborrece e deixa a casa do cliente entristecido. Marcos volta para a janela do quarto. A pizza esfriando na mesa de centro da sala. Pega o binóculo. Toca o telefone. -Puta que o pariu! Qual o maluco da vez?Será que não tem o que fazer além de me ligar??? -Alô.Aqui é do carrrrtão Goldplus maxi super cred,podemos estar tomando um momento do seu tempo para estar oferecendo nosso carrrtão com anuidade grátis?
- Não!!! Porra!!!!
Goldplus agradece. Tenha uma boa tarrde. Aliviado, ele volta a seu afazer. Pega o binóculo e vê que a mulher já saiu do quarto, Sente o corpo esfriar de decepção, fica imóvel sem saber o que fazer, a pizza endurecendo sobre a mesa, a boca seca, os olhos ávidos... Ele senta e fica ali, de plantão esperando-a voltar, o telefone toca mais uma vez. Ele não atende. A campainha estridente grita sem resposta. O mesmo acontece com o celular. Vai como um relâmpago pegar a pizza na sala, mais gelada que um cadáver e, um refrigerante na cozinha. A ansiedade, a vontade, o tesão são tantos que Marcos engole seu acepipe sem distinção de gosto nem textura. Resolve ligar o som pra abstrair. Toca uma música da Ângela ro rô, daquelas que desperta até o mais impotente dos sujeitos...
Eis que a cobiçada vizinha volta para o quarto de roupão de seda. minutos depois, a mulher deixa cair o dito-cujo, que escorrega por suas costas e pernas, reapresentando os seios fartos e, revelando, pela primeira vez para Marcos, pêlos triangulares no púbis. Seu corpo se arrepia, todos os poros se abrem em solidariedade, as mãos suam parecendo cachoeira. Seu coração safenado dá uma batida diferente... Nervoso, ele senta. Com alguma dificuldade, respira fundo, abre a porta, dá alguns passos e toca a campainha do apartamento 502 do prédio
Exibindo na face um olhar de potro no cio ele responde: -Desejo você, gostosa!!!
Nesse momento, Marcos se joga contra o corpo nu da vizinha, coberto apenas pelo fino roupão de seda. Ele se despe. Ela nada pergunta, nenhum manifesto, apenas aceita. Ele, com o pênis ereto e praticamente engatado na convidativa vulva, a empurra contra a parede. Os dois balançam como uma mola tirada da inércia. Pra cima e pra baixo. Pra cima e pra baixo. Pra baixo e pra cima. A mulher geme de medo, de dor e de prazer. Movimentos intermitentes, unhadas e uma pergunta: -quem é você?Qual seu nome?
-Não interessa! Moro em frente! Vai, mexe...
A mulher atende submissa e ensaia uns gemidos. Ele a manda calar a boca, diz que não gosta de barulhos a não ser os dele... Enlouquecida, ela consente. Segura toda a vontade de gritar e mordisca os lábios até descolar uns pedaços de pele,até sangrar... Ele a empurra contra a mesa, derruba um vaso de flores e quebra os copos que lá estavam. Minutos depois é Marcos quem geme. De prazer e de dor, no coração, ele ignora e continua fervoroso, obedecendo aos impulsos da luxúria, e numa velocidade fenomenal faz acrobacias dignas de um ginasta olímpico, o talho generoso continua seu árduo trabalho, ele a percorre com perícia, com a destreza de um atleta, até jorrar parecendo um magma ardente. Exausto, se recompõe e diz um 'até breve “. Volta satisfeito para casa, em estado de semi-ereção. Abre a porta, sente uma pontada forte no peito, se contorce a tempo de alcançar o interruptor de luz, sorri feliz e cai, fulminado.
*Em parceria com Gustavo do Carmo, numa espécie de repente poético.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
O Voyeur
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6 comentários:
Que coisa. Não tem nem a costumeira fotografia entrecortada e encruzilhada, nem a usual densidade dos diálogos. Tem uma cena bacana e bem comum, quase cliché.
Tá bem escrito, tem um suspense legal.
Como foi essa coisa do repente?
Essa coisa do repente tem uns 2 anos ou mais e foi uma auto-desafio.rs
queria ver como ficava a coisa escrita com uma pessoa muuuuuito diferente de mim e com estilo igualmente diferente. Foi um exercício interessante. :)
gostei do ritmo, só fiquei pensando se a mulher não estivesse mais em casa, ele voltaria para sua casa, aceitaria o cartão e compraria pizzas? hehe
Sim, mas, em si, como rola o processo? Um fala uns trechos enquanto o outro escreve e cria simultaneamente, ou o processo é menos verbal, coisa de troca de cadeira e tal?
Achei curioso. Diz aí.
Victor,
o processo rola como num repente mesmo! Um fala e o outro complementa. Caso falte imaginação, o outro continua a coisa... Acho que "minhas partes" na coisa toda estão bem claras.rs
Nem me lembrava desse!
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