sexta-feira, 10 de julho de 2009

Conduzido ao sentimento amoroso-doentio

Catei umas moedas pela casa e conferi se com elas conseguiria pagar uma passagem, o dinheiro dava e ainda sobravam 40 centavos. Enlouqueci de ciúmes, não sabia com quem ela estava falando ao telefone de manhã cedo. Não parecia trabalho, ela estava com uma expressão de contentamento fora do normal, até sorrir a safada sorriu...

Filha da puta! Ficou lá mostrando os dentes conversando com sei lá quem, em pensar que lhe paguei as facetas de porcelana em quatro vezes no cartão de crédito e tive complicações no banco. Meu nome foi pro SPC e tudo e agora ela me apronta uma dessas?!?!

Esverdeado de ódio fui andando até a estação de metrô com o vento a bater na cara. Comprei um bilhete e esperei por uns 5 minutos até embarcar na viagem mais longa e angustiante de minha vida. Meu destino era a estação Arcoverde e ainda estava na central, um desespero e uma vontade inédita de gritar bem alto me vieram de súbito, fui ficando cada vez mais verde e para extravasar dei umas porradas na porta do vagão. As pessoas me olhavam com estranheza, queria matá-las!

Tentava ficar calmo, mas logo me vinha a idéia dela, da faceta, do cartão de crédito, do telefonema, do outro... As pessoas desciam em seus destinos e ficamos eu e apenas 9 pessoas dentro do vagão e uma delas era ela!! Era ela!!! Não acreditava naquilo, ela ali, sentadinha de cabelos lavados pronta pra me sacanear... Dei um berro e agarrei-a pelo pescoço sacudindo bem sua cabeça loira, ela, com cara de espanto sussurrava pra eu parar, obedeci e com os olhos lacrimejantes perguntei: “Por quê? Porque você está fazendo isso comigo?!”.

Desci ao mais baixo degrau da indignidade, continuava esverdeado... Ela disse não entender a cena e quando ao abrir das portas em mais uma estação, ela ameaçou sair, me embolei com minha amada e evitei sua esquiva, nos balançávamos enquanto as portas se fechavam. Ela, presa na porta, aos prantos, pedia pra que a tirasse dali, pois o anúncio de sua promoção no trabalho seria em meia hora e que seu chefe havia ligado para que não se atrasasse. Chorei agarrando-a com força e disse “te amo”.

Foi isso que aconteceu, seu delegado.


*Tá na revista "Não funciona" nº 18 do coletivo Poesia Maloqueirista (çumpaulo)

3 comentários:

Camila Lua Oliveira disse...

EU li isso dentro do metrô de Brasília, na revista.

Rachel Souza disse...

E gostou?rs
Por acaso vc é uma das meninas que estavam com a gente no show da Leci e do "Móveis coloniais de acaju"?

Camila Lua Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.