quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ouvindo Haydn e Beth

Piano suave de introdução e mais um sem fim de instrumentos divinamente concatenados. Metálicos, com sua imponência, cordas isso, cordas aquilo. Mais um trinado de piano, ora suave, ora forte. Altos e baixos rítmicos e a alma dança uma orquestra de vidas inteiras. Música clássica. Ela crê que nunca entenderá o funcionamento. E crê que assim seja o amor, concerto desconcertante do pianista sem dedos, músico surdo às 3 da manhã.
A moça de saia puída, sumariamente excluída, sabia dormir acordada, as privações não lhe atingiam. Era a cavaleira de vermelho com lança e exército imaginário, caçava borboletas no jardim de lírios e espadas -de são – Jorge altas como o céu roxo. Antes do baile ele, de passos macios, disse não serem lírios e sim girassóis ou talvez violetas. A moça ouviu o vento ardente e confirmou os lírios. Sorriu bestamente, abriu os olhos. Percebeu ter diante de si mais um trinado de piano e os quadros tortos na parede, o que não era tão mal se levando em conta suas ambições. A moça sabe que houve um tempo em que era poesia. Hoje a faz em tentativas. Talvez a vida seja isso, um eterno retorno ao estado poético mais puro, à respiração-verso. Na manhã de bicicleta seguiu, com seus olhos úmidos de contentamento framboesa e, quente e verde, se aproximou da janela.