quinta-feira, 13 de março de 2008

Uma nova ordem de coisas

Acordou com a cabeça inchada e um zumbido estranho no ouvido direito. Tentou levantar, mas as pernas a impediam. Forçou mais um pouco e o máximo que conseguiu, foi sentir ainda mais dor e desconforto emocional, pôs-se então, a chorar copiosamente feito uma carpideira. Lágrimas caiam e se misturavam ao suor e aos vestígios de sangue que jorravam de sua boca, presenteada com a recém-ausência de dois de seus dentes da frente. Sem sorriso, sem dentes, sem força para andar... Parada, prostrada no meio da rua, com medo do mundo. Ela não sabia de nada. Ao redor, um razoável amontoado de pessoas ávidas por novidades e sangue fresco, verdadeiros vampiros enlouquecidos, todos eles,sem exceção. Um pouco mais à frente, tentando passagem no enorme trânsito em formação, uma ambulância berrava o socorro esperado, as pessoas se agitavam com cólicas mentais, os bombeiros isolavam a área com faixas e cones, ela sentia o zumbido sumindo enquanto ouvia a voz de São Jorge.
Ainda no chão, se contorceu,gemendo feito uma cuíca e puxou do bolso da calça, um olho-de-boi e uma figa- de- guiné. Definitivamente algo estava errado, as coisas estavam inegavelmente estranhas... Ela pensou, enquanto se ajeitava em meio a suas fraturas expostas. Não tinha rastros de explicações palpáveis nem de qualquer lembrança do ocorrido, sentiu-se agoniada e impotente, recomeçou a chorar. Seu celular tocava dentro de sua enorme bolsa Azul-Royal, sua blusa bege ganhava um tom esverdeado por conta dos litros de sangue derramados sobre o asfalto molhado. Chovia e fazia calor, era verão, era janeiro. Uma senhora jogou uma rosa, esboçando piedade, uma criança olhou e gritou “mamãe!”, um bêbado riu e mandou todo mundo se fuder, a ambulância chegava.
Cansada e imóvel, lembrava do dia anterior, iniciado cedo de manhã, o despertador tocando, o corte do aquecedor do chuveiro por falta de pagamento, o pão duro esquentado na chapa e o achocolatado com leite fora da validade. O ônibus cheio e as passadas de mão inoportunas, a morte de seu gato siamês. Esforçava-se, mas absolutamente nada a conectava com o fato de estar estirada no asfalto por tanto tempo. Os médicos iniciaram sua remoção do local, um vendedor de amendoim torrado entoou seu pregão.


#Esse é um rascunho,não é definitivo.Aceito sugestões! :)

2 comentários:

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Muito bom, que muitos rascunhos venham com um grande obra.

gustavocarmo disse...

Pra mim, este rascunho seria definitivo.