quinta-feira, 1 de maio de 2008

Compra noturna


O ar estava pesado. Um misto fétido de perfume vagabundo, cigarro, cerveja e intimidades mal-lavadas. Como que um castigo, não batia vento, só uma irônica brisa a espalhar ainda mais o cheiro e inebriar-me as narinas curtidas. Encostei na parede, olhei para os lados verificando a possível presença de um conhecido e esperei a puta se aproximar. Seus cabelos alisados destoavam da raiz crespa, a boca artificial e torta orgulhosa de batom vermelho ressecado, seios duros e em alinho evidenciando o silicone barato e botas de plástico preto compunham o visual daquela que comeria por um preço provavelmente módico. Perguntei seu nome, ela disse ter vários, só escolher. Escolhi Suzi, nunca tinha pego uma “Suzi”. Tudo ali soava falso, exceto a nudez e a buceta.



*Gravura de Oswaldo Goeldi

10 comentários:

Márcio Palmeira disse...

Nessa não teria engano
para o Ronaldo.

Sylvia Regina Marin disse...

Rachel,
Não vou comentar todos os textos porque estou sem tempo. Mas li tudo, todo o blog e repito o que já disse antes: você é super-talentosa. O mundo precisa descobrir você.
Beijos.
Sylvia

Anônimo disse...

bom nome Suzi...uma barbie na noite cheia de sobras....e o gosto era de um falso amargo
DuduPererê
www.verbologue.zip.net

gustavocarmo disse...

Andou lendo o diário do Ronaldo? (hehehehe)

Mossad Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mossad Oliveira disse...

muito bom...

Fabrício Brandão disse...

Cazuza cantava "vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou". Lendo COMPRA NOTURNA, fiquei pensando nesse nosso jogo confuso das identidades, nessa busca de acharmos no outro respostas para a nossa miopia. Contrariando Sartre, nós também somos o inferno.

Beijos, querida, e obrigado pelo nobre convite em vir pousar aqui nas tuas linhas!

Flávio Corrêa de Mello disse...

Olá Rachel,

Realmente o texto tem muita crueza e é muito bom. Já pensou em alongar essa história? Ou, de fato, foi somente uma passagem breve. Um flash?

bjs

sabina anzuategui disse...

Adorei as gravuras.
Os textos me assustam um pouco, ando numa fase familiar...
Beijos!

Anônimo disse...

Seu texto cheira à sangue fresco. Entranhas espalhadas pelo chão. Uma foice afiada cortando a carne. A verdade nua e crua. Tem a força de um furacão F5.
Rafael Nazareno